quarta-feira, 13 de junho de 2012

13/06 Negócios sustentáveis: o papel das organizações na construção de uma nova ordem mundial


Por Simão Mairins, Eber Freitas, Mayara Emmily, Fábio Bandeira e Agatha Justino,

Os desafios são muitos, mas o caminho a se percorrer já não é tão longo. Mais do que em qualquer época, a hora é de arregaçar as mangas

Preparada e debatida no âmbito das Nações Unidas desde 2010, através de uma série de encontros, seminários e reuniões que envolveram representantes políticos de todo o mundo, a Rio+20 é eminentemente um fórum de estados. Nesse sentido, o evento tem como objetivo central definir metas e firmar acordos a serem cumpridos pelos governos nas próximas décadas. Na perspectiva de uma economia global, entretanto, em que empresas, organizações não-governamentais, entidades de classe, movimentos sociais e mesmo cada indivíduo por si só podem causar mais impacto sobre o mundo do que todo o aparato estatal, é indispensável que a busca por soluções vá além dos gabinetes e salões oficiais.
Em uma análise sucinta, porém extremamente lúcida, publicada recentemente em suas colunas na IstoÉ e aqui no Administradores.com, o economista Ricardo Amorim destaca que a solução para os problemas que enfrentamos hoje (e nos assombram com prenúncios catastróficos de um futuro já não tão distante) passa pelo esforço conjunto de todos os atores envolvidos nesse contexto.
Peter Senge, um dos mais renomados estudiosos da Administração no mundo e autor da aclamada obra "A quinta disciplina", pensa da mesma forma. Agora, no auge das discussões em torno da sustentabilidade, boa parte de sua obra tem sido relida até por ele mesmo, que em palestras recentes no Brasil e em uma entrevista exclusiva que concedeu à revista Administradores no final do ano passado fez questão de destacar que o caminho para um mundo sustentável passa inevitavelmente por uma das suas cinco disciplinas: a visão sistêmica do mundo.
Imagem: Thinkstock

Na prática, tudo isso pode significar desde transformações na forma como os países ricos lidam com o resto do mundo até a mudança de pequenos hábitos de cada indivíduo em seu dia a dia. Nesse contexto, qual o papel das empresas?
"As pessoas têm que saber o que fazem no dia a dia, como você toca o dia a dia das suas empresas e o impacto que causa em todos os públicos com os quais você se relaciona. Você está deixando um impacto positivo ou está fazendo um estrago?", questiona Fábio Barbosa, ex-presidente do Santander, em palestra na Plataforma Liderança Sustentável.
Barbosa destaca que a implantação de posturas responsáveis nem sempre é fácil dentro das companhias, mas tudo é uma redefinição. Ele lembra que um dos primeiros projetos que encampou no banco foi um que vetava a concessão de crédito a madeireiras que não trabalhassem com madeira certificada. "Com o tempo, nós perdemos um cliente, perdemos outro, perdemos o terceiro, e a pressão começou a ficar grande sobre mim. Até que, provando que realmente estávamos adotando a postura correta, apareceu uma madeireira dizendo que sempre trabalhou com madeira legal, nenhum banco havia valorizado isso e que por valorizarmos ficaria conosco", conta.
"Acreditamos que o sucesso desse modelo depende do engajamento e participação dos diversos parceiros com quem atuamos e na qualidade das relações que estabelecemos, incluindo, portanto, nossos colaboradores e acionistas. Nenhum elo dessa corrente pode responder sozinho aos desafios da sustentabilidade", afirma Renato Abramovich, diretor regional Norte-Nordeste da Natura.
"Acreditamos que para fazer um negócio evoluir, precisamos aliar o crescimento à preservação do meio ambiente e ao bem estar de nossos colaboradores e consumidores. Na Unilever, a sustentabilidade está cada vez mais ligada ao nosso dia a dia e, como empresa, queremos inspirar as pessoas a adotarem atitudes em suas vidas que também façam a diferença. Nossa empresa trabalha com este conceito há mais de 20 anos", afirma Juliana Nunes, diretora de Assuntos Corporativos da Unilever. 

Administradores sustentáveis

Em uma série de vídeos publicados aqui no Administradores através de uma parceria com a Plataforma Liderança Sustentável, dirigentes de grandes empresa contam como têm conseguido conduzir mudanças de paradigmas dentro das organizações em que atuam ou atuaram. Confira:

Mais que um diferencial, um valor intrínseco

A sustentabilidade, apesar de ser um fator determinante para o sucesso ou o fracasso de um negócio, ainda não está completamente inserida na lógica da competitividade do mercado. É uma noção simples: esse valor, potencialmente, representa um diferencial; dessa forma, os custos ambientais e sociais dos programas e projetos desempenhados pela empresa podem ser incluídos naturalmente no preço final do produto.
Mas, num mercado de competição entre empresas – onde a ética e a transparência nem sempre têm tanto espaço – um produto pode ter a mesma qualidade que o seu rival sustentável, mas apresentar um preço bem inferior, obtido à custa de algum elemento na cadeia de valor que agride à humanidade e ao meio ambiente. Exemplos recorrentes são o uso da força de trabalho infantil ou a aquisição de madeira extraída ilegalmente.
E aí entramos nós, consumidores: estamos dispostos a pagar mais por um produto sustentável? "O agronegócio e a indústria precisam assumir suas responsabilidades ambientais, mas os consumidores têm de aceitar que certas medidas ecologicamente necessárias têm custos expressivos que serão repassados aos preços dos produtos", afirma o economista Ricardo Amorim.

Responsabilidade social

Mais que a velha filantropia, a responsabilidade social é um compromisso na luta contra a miséria e a inclusão ampla na economia. Fábio Barbosa destaca que essa não é uma questão de simplesmente as empresas colocarem a mão no bolso e fazerem algumas doações, mas contribuírem para a participação dos indivíduos no sistema produtivo.
O indiano C. K. Prahalad, doutor em Administração por Harvard e que foi conselheiro do governo da Índia para empreendedorismo, defende em sua obra "A riqueza na base da pirâmide" que é possível erradicar a pobreza com o lucro e apresenta os caminhos para isso. Entre os exemplos citados por ele, tanto no livro quanto nas palestras que fez sobre o assunto, estão duas empresas brasileiras. Uma delas é a Natura, que é sinônimo de sustentabilidade no mundo justamente pelo seu conjunto de práticas. E a outra é rede Casas Bahia, que – para Prahalad – é um exemplo por viabilizar o acesso de classes mais baixas a bens de consumo por meio de crédito de longo prazo e formas simples de pagamento.
Prahalad cita ainda o exemplo da Cemex, fabricante de cimento mexicana que conseguiu se reerguer após uma crise interna vendendo diretamente e a baixo custo para pessoas de baixo poder aquisitivo, ajudando assim a reduzir o déficit habitacional no país.
Os desafios são muitos, mas o caminho a se percorrer já não é tão longo. Mais do que em qualquer época, a hora é de arregaçar as mangas e frear nosso instinto destruidor. Caso contrário, destruiremos nossa própria existência. E as empresas têm papel crucial nisso tudo.
   

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