São Paulo - Os bancos de pequeno e médio portes no Brasil estão mais preparados para enfrentar um possível agravamento da crise europeia mas, mesmo que isso aconteça, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) tem muita munição para prover liquidez ao sistema, disse um executivo.
"Tem muito dinheiro disponível e pouco está sendo usado", disse à Reuters o diretor-executivo do órgão privado, Antonio Carlos Bueno de Camargo Silva.
Pelo estatuto, o FGC pode usar até metade de seu patrimônio de 27,5 bilhões de reais para dar liquidez aos bancos. Segundo ele, atualmente apenas 2 bilhões de reais estão empenhados para esse fim.
O órgão criado em 1995 e mantido pelos bancos voltou à cena recentemente em meio a sinais de enfraquecimento dos bancos menores.
Na quinta-feira, a agência Moodys rebaixou a nota de crédito d Banco Cruzeiro do Sul, após a companhia ter constituído um fundo de direitos creditórios de 4,5 bilhões de reais, com administração externa, para receber recursos das carteiras de crédito consignado geradas pelo banco.
Isso depois de o Banco Central ter flexibilizado na semana passada algumas das medidas macroprudenciais para empréstimo consignado, empréstimo pessoal e financiamento de automóveis, com prazo de até 60 meses.
Segundo analistas, o alívio do BC deve dar fôlego a bancos menores especializados nessas linhas e que estavam mais apertados desde o anúncio das macroprudenciais no fim de 2010.
Assim como o Cruzeiro do Sul, Camargo Silva negou informações de que o banco teria acessado uma linha emergencial de 3 bilhões de reais com o FGC. Para o executivo, os bancos estão se antecipando a uma possível piora externa, aumentando caixa, o que reduz fortemente as chances de pedir socorro ao FGC. "Tem banco hoje que tem em caixa um valor maior do que o do patrimônio", disse.
Nesta semana, o BicBanco informou que tinha patrimônio de 2 bilhões de reais de patrimônio líquido no fim de setembro e que seu caixa disponível era de 3,7 bilhões de reais.
Em 2008, após a quebra do norte-americano Lehman Brothers, vários bancos de pequeno porte no Brasil ficaram sem acesso a recursos. Na época, o FGC teve que oferecer liquidez a vários deles.
Ainda assim, aquele episódio acabou resultando num movimento de consolidação bancária no país, incluindo a compra de metade do Banco Votorantim pelo Banco do Brasil e de 35 por cento do Panamericano pela Caixa Econômica Federal.
O FGC acabou socorrendo posteriormente o Panamericano, após ter sido detectada uma fraude de mais de 4 bilhões de reais no banco -que teve seu controle vendido pelo empresário Silvio Santos ao BTG Pactual.
"Em 2008, a crise foi repentina, agora está sendo homeopática, o que está dando aos bancos chances de se anteciparem para evitar o pior", disse Camargo Silva.
O executivo disse desconhecer informações de que o presidente do Conselho de Administração do FGC, Gabriel Jorge Ferreira, esteja para deixar o cargo no começo do ano que vem, um ano antes do término de seu mandato
Fonte: Revista Exame
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