terça-feira, 7 de agosto de 2018

Escrituração contábil geral

Em todas as ciências a primeira coisa que surge como manifestação do intelecto intuitivo são as partes mais práticas. Ou mais bem dizendo, as partes mais simples.

Todo conhecimento científico, está incrustado no empirismo, no instinto humano; o homem só fazia, não sabendo explicar corretamente as causas das coisas, ou a causa dos fatos.

Toda ciência começa com o empirismo e com as formas mínimas de simbolismo.

No caso da contabilidade, a primeira manifestação foi a conta, simbolismo de todo o aparato da sociedade econômica que temos hoje conforme afirmava Werner Sombart.

As contas sempre foram representantes dos fenômenos patrimoniais.

A conta apareceu primeiro, a explicação científica milênios depois.  

Vemos retratos da escrituração simbológica praticamente 30 mil anos antes de Cristo, em ossos de rena, expressando quantidades.

Depois, vemos estas anotações estarem representadas em desenhos, algumas até no Brasil, em Lagoa Santa, datadas de 15 mil anos antes de Cristo.

A técnica de assim escrever os fatos em livros ou cadernos apropriados, primeiramente foi tida como anotação, e depois se delineou como técnica contábil.

O homem que primeiro escriturava era considerado braço direito dos grandes reis, e chefes de Estado, o nominado ESCRIBA. Isto é, AQUELE QUE REGISTRA, OU AQUELE QUE ESCREVE. O contador era o TÉCNICO MÁXIMO, o grande ESCRITOR. Era o ESCRIBA. Todavia, dos FENÔMENOS PATRIMONIAIS.

A escrituração então, contabilmente falando, é técnica, já as contas são as cifras representantes dos fenômenos patrimoniais, isto é, os “nomes dos fatos”.

Surge a escrita contábil antes da comum, pois, aparece as cifras para desenhar fenômenos patrimoniais e não fatos do cotidiano. 

Era a arte mais difícil de domínio, como o é até hoje. 

Escriturar parece ser fácil, mas no fundo exige anos de estudos.

O domínio da anotação técnica não é fácil, nem para os contadores formados.

Autores das melhores Universidades do Brasil dizem claramente que o defeito que está presente em seus alunos, é se formarem sem saberem escriturar e registrar corretamente.

Para cada fato exige-se um lançamento. Feito por meio do lançamento duplo. Ou “partita doppia”( lançamento duplo). A famosa partida dobrada, que possui todo um contexto histórico.

Em Roma antiga tinha uma visão muito parecida com os ACCEPTI ET EXPENSIS que eram ostentados em praça pública. Ou seja, o livro de ENTRADAS E SAÍDAS. Parecia e muito com o débito e crédito. Embora comprovadamente era apenas um indício e não a realidade do registro duplo.

Mesmo assim, a escrituração era realizada de modo simples.

O documento de partida dobrada mais antiga, com balanço, data do século XIII, de uma companhia italiana, donde se tem apenas o “foglio”, porém destacando claramente o potencial que a contabilidade já possuía em matéria de registros.

A divulgação sistemática ganha muito mais voga com o trabalho de Luca Pacioli, que era matemático, e contador empírico. Famoso pelos seus trabalhos de matemática. E igualmente muito conhecido por ser professores de grandes autores das artes e ciência do mundo, como Leonardo da Vinci.

As obras de Stevin, Pietra, Manzoni, Degranges (pai) , Degranges ( filho), Fiori, Casanova, entre outros se centrava na técnica de escrituração.

Os cursos de contabilidade no Brasil formavam os guarda-livros, e estes por supremacia técnica foram apelidados de contadores (em Portugal se usa muito o termo "contabilista").

A primeira associação oficial do Brasil, também era dedicada ao profissional escriturador. Se chamava “Associação dos Guarda-livros da corte”, fundada ainda no final do século XIX. Portanto, guarda-livros é o contador que faz as anotações no livro, é o contador que escritura essencialmente em sua vida profissional.

Em suma, a tradição contábil se fez com forte doutrina embasada na escrituração, e com forte embasamento doutrinário e técnico, seja com proveniência dos italianos, seja dos americanos, contudo, mais forte pelos ibéricos.

Hoje mais que nunca é necessário escriturar, visto que nobres professores comentam sobre a tendência de deficiência do uso da escrituração nos cursos gerais de contabilidade.

Uma hipótese interessante de ser lançada, sobre o mal conhecimento do registro duplo, se relaciona com as normas de contabilidade.

Ensina-se muitas normas, todavia, para cada uma delas deveria existir um registro, muitas vezes este acompanhamento não existe.

As pessoas decoram normas e não sabem escriturar.

Esta é uma das deficiências.

Outro problema muito interessante é realmente a falta de literaturas, pois, por mais que haja uma consolidação de livros, há ausência de tratamento dos problemas básicos de contabilidade, entre estes os da escrituração.

Por tal escrevemos esta obra apenas para resolver em parte os problemas que temos em relação à escrituração, não esgota o assunto, mas traz os principais lançamentos tradicionais para montar bem um balanço, cujo processo de apuração fora absorvido e muito bem pelos computadores.

A escrituração é a base mais técnica da informação.

Mesmo com o advento de computadores, a escrituração não se extinguiu, ela é a entrada de dados, e mesmo sendo feita por pessoas sem a formação científica, o seu domínio é do profissional da contabilidade.

Até legalmente, a escrituração é prerrogativa e de responsabilidade do contador. 

Os balanços e as demonstrações são, pois, conjuntos de lançamentos, se estes não existirem a MATÉRIA-PRIMA do conhecimento contábil não existe.

Sem dúvida é a técnica mais importante, ainda em se tratando das informações. A utilizamos sempre. O uso de computadores facilitou e muito a vida do contador. Para mais além do que podemos avaliar, é impossível ter hoje um escritório de contabilidade, sem as entradas de dados usadas pelos contadores, até porque além desta visão, temos um vasto conjunto de conhecimentos. A contabilidade não se resume na escrituração também.

No campo técnico é imprescindível, ao contador, dever saber analisar, interpretar, periciar, auditar, atualizar, administrar as informações, todavia, é mister saber igualmente como escriturar os fatos, pois, disto deriva o seu próprio nome, como “aquele que conta”.

Escriturar é produzir a base da informação, ou a menor informação. 

Como alguém analisa um balanço sem conhecer como registrar e escriturar os fatos que diz conhecer?

Por isso é fundamental o uso de escrituração para todos os profissionais da contabilidade.

Aprender a escriturar é essencial na vida do contador.

Não deixamos de exaltar a necessidade de analisar, interpretar, produzir opiniões técnicas, mas o maior problema em relação à produção das informações, está realmente em se saber anotar. O contador que não sabe escriturar é igual ao violonista que não sabe colocar uma corda e afinar um violão.

A deficiência de todas as faculdades e universidades está em realmente formar alunos que saibam registrar. Mesmo com o advento de normas a necessidade urge, embora haja uma tentativa de troca dos registros pelas normas, sendo que um é efeito do outro.

Hoje se sabe muita norma e não se sabe escriturar nada. Para isto fizemos este trabalho, com poucas centenas de páginas ensinando os principais lançamentos da contabilidade geral, como fazer o levantamento, e o lançamento dos dados, a base lógica, e legal, e como faríamos o balanço com base nesta técnica a mais importante da produção de informação, por ser a base.

O contador não é somente um profissional normativo, ele é um registrador, por isso, esta função por mais que esteja absorta por máquina, não pretere o seu domínio, por parte daquele profissional que necessita realmente informar e explicar a informação para a prosperidade das células sociais.

Rodrigo Antonio Chaves Silva é contador, especialista em gestão econômica das empresas, Professor universitário, perito judicial, consultor, analista e auditor, ganhador do prêmio internacional de contabilidade financeira Luiz Chaves de Almeida, e de história da contabilidade Martim Noel Monteiro, imortal da academia mineira de ciências contábeis, e possui 20 livros escritos.

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