quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

03/02 Os perigos de ser um líder determinado demais

A determinação é ótima na maioria das vezes. Mas alguns líderes executivos correm o risco de serem determinados demais.

Marca tradicional daqueles acostumados a alcançar objetivos, a determinação está na moda hoje em dia — principalmente devido a uma pesquisa feita por Angela Duckworth, professora de psicologia da Universidade da Pensilvânia. Ela descobriu que a determinação, ou “grit” em inglês, definida como paixão e perseverança para perseguir objetivos de longo prazo, é um indicador de sucesso mais certeiro que o talento ou a inteligência. A conferência dela no Ted Talks — série de vídeos que apresentam uma ideia importante em 18 minutos ou menos — em 2013 foi assistida quase oito milhões de vezes.

“Executivos determinados se sobressaem em seus empregos e têm maior potencial de serem promovidos”, diz Dean Stamoulis, diretor do Centro para Ideias sobre Liderança da Russell Reynolds Associates Inc. A empresa de recrutamento realizou avaliações detalhadas de mais de 7 mil executivos desde 2005, concluindo que “aqueles que têm determinação mostram mais energia, resistência emocional e foco no planejamento”, diz Stamoulis. Diretores-presidentes têm níveis maiores de determinação do que outros executivos, mostra a análise.

Por outro lado, alguns gerentes seniores mais impetuosos “estão sendo criticados por serem determinados”, frequentemente porque não sabem quando desistir, diz Richard Chaifetz, líder da ComPsych Corp., uma grande empresa de programas de assistência a funcionários. A ComPsych observou um aumento nas consultas desses executivos estressados nos últimos 12 meses.

“O excesso de determinação pode prejudicar sua carreira”, alerta Mary Herrmann, diretora-gerente de treinamento de executivos da BPI Group, uma consultoria global. Ela estima que cerca de 35% dos contratos de treinamento da BPI envolvem determinação, com muitos executivos agindo “de uma forma apaixonada demais com relação a seu objetivo” quando assumem um novo cargo ou recebem uma grande promoção.

Essas pessoas continuam tentando vencer batalhas perdidas, mesmo quando a persistência reduz as chances de elas ganharem um bônus, segundo um estudo recente sobre os prejuízos do excesso de determinação feito pelo Instituto para Tecnologias Criativas da USC, afiliado à Universidade do Sul da Califórnia. “Também existe valor em saber quando parar”, conclui o estudo.

Uma diretora de uma empresa do setor de cuidados com a saúde levou meses para reconhecer que sua atitude determinada estava afetando outros funcionários. Contratada para um cargo de liderança como chefe de departamento em uma organização de pesquisa, ela gradualmente notou que sua abordagem estava alienando membros da equipe porque ela insistia em sua visão para reestruturar a organização.

“Aí, eu cobrava ainda mais”, lembra a executiva. “Todo mundo ficou irritado ou com raiva.”

As negociações com colegas fora de seu departamento também se deterioraram. Ela reagiu colericamente a sugestões sobre como deveria administrar um projeto desafiador. Em fevereiro de 2015, a empresa contratou a treinadora de executivos Donna Stoneham para aconselhar a diretora. Entre outras coisas, a executiva diz ter aprendido a identificar as respostas de seu corpo ao excesso de estresse — como contrações nos músculos da coxa — e a respirar lentamente para se acalmar.

O chefe da executiva acredita que ela agora trabalha de forma mais eficaz, diz Stoneham, que é presidente da Positive Impact LLC, uma empresa de treinamento e liderança transformacional.

Especialistas recomendam que pessoas excessivamente determinadas também busquem feedbacks sinceros sobre seu comportamento com mentores internos, colegas de trabalho ou parentes capazes de ajudar.

“O verdadeiro risco para executivos determinados é que eles não consideram meios alternativos para atingir as metas”, diz Gale M. Lucas, principal autor do estudo da USC. “O fato de você ter seguido determinado caminho não significa que ele é o certo.”

Outros especialistas discordam, vendo a adaptabilidade como um elemento inerente à determinação. “Resiliência é saber quando ir por ali ou por aqui, mas não desistir”, diz Robin Koval, um dos autores do livro “Grit to Great”(algo como “Da determinação para o sucesso”, em tradução livre, sem edição em português) e diretor-presidente da Truth Initiative, uma fundação de saúde pública.

Richard K. Davis, diretor-presidente do U.S. Bancorp, preocupa-se por ser excessivamente determinado. Ele se comprometeu publicamente a evitar demissões na sede do banco americano, em Minneapolis, mas teme que os juros baixos possam forçá-lo a mudar de curso.

“Estou no meio do momento mais determinado de minha carreira”, diz Davis. “Estamos prestes a descobrir se isso foi determinação demais.”

A determinação é muito valorizada entre os fundadores de “startups”, ainda que Andrew Weinreich, que opera um centro de treinamento para empreendedores, encontre muitos que se recusam a abandonar empreendimentos em dificuldade.

Isso é algo que Weinreich, empreendedor que já lançou vários negócios, conhece bem. Ele fundou a sixdegrees.inc, que diz ter sido a primeira rede social a permitir que os usuários criassem perfis, depois que 200 investidores potenciais rejeitaram um conceito que o Facebook mais tarde popularizou. Ele vendeu a sixdegrees por US$ 125 milhões no fim de 1999.

“Você tem que descobrir quando dar meia-volta”, diz Weinreich. Ele sempre pede a críticos inteligentes que desafiem suas premissas centrais antes de começar um negócio. Ele também mudou de direção centenas de vezes nas sete empresas que criou.

Weinreich acredita que o truque é saber quando perseguir sua visão apaixonadamente e quando aceitar que perdeu a batalha. “Você não será um gênio por persistir a todo custo numa ideia fracassada,” diz ele.

Fonte: WSJ

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