terça-feira, 18 de junho de 2013

18/06 Contabilidade como instrumento de gestão sustentável de pequenas e médias empresas – Parte I

A principal reclamação, em palestras, salas de aula ou fóruns específicos de pequenas e médias empresas, é que os profissionais do ensino sempre dão ênfase às grandes empresas. Esta afirmação não é totalmente verdadeira quando se compreende que estas empresas têm os mesmos objetivos que as grandes empresas: gerar resultados positivos acima do custo de capital, quitar as obrigações, remunerar seus proprietários ou investidores e crescimento sustentado.

Grande numero de negócios, mesmo com potencial de crescimento, gestores cometem erros, às vezes fatais, que podem ser evitados com uma gestão apoiada em instrumentos, a ser realizada pelo empreendedor e o grupo que o apoia.

Observem que não usei o termo gestão mais profissionalizada, com o qual discordo, porque as pequenas empresas não podem pagar controllers, ou profissionais com conhecimento de contabilidade e finanças,  para cuidar dos seus negócios, mas podem elaborar a contabilidade dentro dos aspectos qualitativos das demonstrações contábeis, previsto na “Contabilidade das PMEs” e constituir um sistema de informações, denominado de SIC – Sistema de Informação Contábil e a partir deste tomar  decisões com base em eventos que ocorreram e que foram devidamente mensurados ou valorizados segundo a técnica contábil.

Em nosso livro “Contabilidade Para Gestores”, publicado pela Editora Atlas em 2011, defendemos a necessidade do empresário, empreendedor ou executivo de PMEs exigir mais do seu contador, ainda que terceirizado, e registrar os eventos contábeis em consonância com a Contabilidade das PMEs, bem como envolvê-lo nas decisões estratégicas da empresa.

Em ambiente competitivo contabilidade como linguagem internacional dos negócios é importante instrumento de apoio à gestão. Os gestores das PMEs não podem mais dispor de um contador apenas para atender o Governo, ou, calculando os impostos e encaminhando, por e-mail, para a empresa pagar.

Grande numero de PMEs continuam com este raciocínio, economizam em contabilidade e tem um custo oculto em não dispor de números confiáveis para decisões como formação de preço, descontos concedidos, prazos a clientes, investimentos, financiamento e retiradas mensais, normalmente conhecidas como dividendos etc.

Um sistema de informação confiável evita que erros crassos como os destacados abaixo (citamos apenas três)

  • Retirada incompatível com os resultados da empresa;
  • Desrespeito ao princípio da entidade;
  • Investimentos para atender clientes, ou ampliar o negócio sem uma fonte de financiamento com baixo custo de capital e longo prazo;



Retirada incompatível com os resultados

É normal, e justo, o empreendedor fixar uma remuneração pelo seu trabalho. Quando estes ganhos são incompatíveis com os resultados da empresa ela começa a se financiar com fornecedores, dilatando prazos de vencimento, não pagando nas datas  acordadas, não pagando os impostos e obtendo financiamentos de curto prazo junto a instituições financeiras.

O não pagamento a fornecedores, além de problemas futuros com o cadastro positivo,  ocasiona uma tensão entre as partes (comprador e vendedor), o fornecedor repassa os riscos aos preços aumentando-os e reduz prazos e limites de compras. Esta política indiretamente aumenta os custos, quando o objetivo de qualquer empresa é reduzi-los.

O atraso no recolhimento dos impostos em dia gera multas e juros. Para o não recolhimento autuações com multas punitivas, juros e atualização monetária. Contando com excelente tecnologia, aliada ao SPED – Sistema Público de Escrituração Digital é praticamente certo que estes impostos serão cobrados e a possibilidade de decadência, ou seja, o Fisco não cobrar dentro do prazo legal, diminui a cada dia.

A adesão aos parcelamentos é uma saída para reduzir o impacto no fluxo de caixa, mas não uma solução porque é um volume de recursos mensais que comprometem a saúde financeira e o crescimento sustentado porque são extraídos das atividades operacionais do período.

O parcelamento sistemático normalmente conduz a inadimplência, a impossibilidade de retirar as CNDs - Certidões Negativas de Débito úteis para a participação em concorrências e licitações, fornecimento de produtos e serviços a grandes empresas, alienação imóveis pertencentes a empresa, fusões e incorporações etc.

A decisão de retirada incompatível normalmente deve-se a diferença entre as expectativas de retorno e o retorno real. Alinha-se expectativa e realidade com dois instrumentos, o planejamento com o orçamento e o real com a contabilidade.

           
Desrespeito ao princípio da entidade

Reza o princípio da entidade que o valor aplicado pelos sócios na entidade a ela pertence. Assim, os negócios dos sócios não podem confundir com a operação das PMEs.

Não obstante, é comum os sócios quitarem obrigações particulares com o caixa da empresa, não permitido pela legislação fiscal além de incorrer na dificuldade de calcular os resultados efetivos da empresa, uteis para tomada de decisão.

Com a adesão a Contabilidade das PMEs o contador orientará o empreendedor a separar os negócios para evitar riscos e obter números confiáveis sobre a PME.

 Investimentos para atender clientes, ou ampliar o negócio sem uma fonte de financiamento com baixo custo de capital e longo prazo

Outro erro comum é investir para ampliação do negócio, reter clientes ou aumentar a participação no mercado com financiamento de curto prazo e taxas de juros altas. A aquisição de ativos fixos não tem o retorno imediato do capital, enquanto o empréstimo (capital e juros) é exigido periodicamente pelas instituições financeiras.

Este hiato entre a exigência de recursos pelos bancos e o retorno oriundo das operações vai gradativamente asfixiando o fluxo de caixa e impedindo investimentos sustentáveis.

Empréstimos para financiar déficit de caixa são uteis e necessários quando temporários. Recorrer a empréstimos, descontos de títulos (duplicatas) e outras linhas de crédito atenta contra a sustentabilidade do negócio no longo prazo porque os juros no Brasil, embora menores que em um passado recente, são muito altos.

Utilizar empréstimos para financiar as vendas, ou imobilizações necessárias a prestação de serviço, com o capital de terceiros só é possível se a margem do negócio forem altas e o ponto de equilíbrio rápido. Situações diferentes das descritas devem ser evitadas


Considerações Finais

A opção por uma atividade econômica é uma opção pelo risco, contudo o risco não devidamente calculado pode invalidar negócios excelentes. Pesquisas feitas por Jim Collins confirmam que a administração conservadora e eficiente dos recursos financeiros consta entre as principais características das empresas longevas.Quando uma empresa toma recursos de terceiros ao custo inferior ao retorno do negócio ela está financiando seu crescimento, em contraposição está transferindo recursos da empresa para terceiros.

Desta forma, a decisão de decisão de financiamento deve ser precedida de estudos apoiados no planejamento, o orçamento é o instrumento adequado para este fim, e o conhecimento do comportamento dos custos, da rentabilidade dos produtos e serviços vendidos, bem como das despesas para manutenção da PME. Neste caso o instrumento é as demonstrações contábeis elaboradas com base na Contabilidade das PMEs

Apoiados nestas informações, com conhecimento do mercado, perspectivas futuras, e informações macroeconômicas que afetam o negócio é possível tomar decisões que adicionarão valor à PME.

Não negamos que quando o assunto é disponibilidade de recursos às pequenas e médias empresas encontram limitações porque os investidores e financiadores ao direcionar seus recursos privilegiam riscos menores e garantias. Assim, os instrumentos financeiros para financiar o crescimento são limitados e caros, ou seja, com juros incompatíveis com as taxas de crescimento da PME. Às vezes proibitivos.

As garantias são de fato um problema porque a maioria não dispõe. Não obstante os riscos podem ser mitigados com a adoção da Contabilidade das PMEs uma vez que a adoção desta dá confiabilidade as demonstrações financeiras, permite a comparabilidade com outras empresas, possibilita aos analistas melhor analisar a situação econômico financeira e reduz o custo de capital. 

Contabilidade pode não ser um remédio para os males empresariais, mas constitui um tratamento preventivo, quase um antídoto.

por Levi Gimenez

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