quinta-feira, 10 de março de 2016

10/03 Use o DRE a favor dos resultados

O Demonstrativo de Resultados do Exercício é mais do que uma ferramenta contábil. Ele pode ser o trampolim para uma empresa mais eficiente

O DRE (Demonstrativo de Resultados do Exercício) é muito mais do que uma "fotografia" do momento atual de uma empresa. Ao acompanhá-lo com frequência, o supermercadista pode analisar como estão evoluindo os resultados e, assim, agir para corrigir rotas mal traçadas. "O DRE é um instrumento de análise de eficiência de uma companhia. Por meio dele é possível saber se a empresa está gerando lucro ou não; se está construindo um futuro próspero ou condenado", afirma Alexandre Ribeiro, sócio-diretor da R-Dias Assessoria para o Varejo. Apesar disso, poucos gestores dão a devida atenção ao instrumento. Há casos em que o demonstrativo é acompanhado regularmente, mas não há rapidez na tomada de decisões. "É muito importante ter agilidade ao se notar a deterioração dos resultados", avisa Ribeiro. A seguir, ele menciona os principais indicadores e mostra como analisar e utilizar os dados de um Demonstrativo. Acompanhe.

Conheça os principais indicadores

Principais indicadores

Devem ser calculados sempre em valores

Margem bruta

é a lucratividade obtida sem a negociação de verbas. Para chegar a esse valor, são deduzidos impostos associados à venda e ao Custo de Mercadoria Vendida

Margem comercial*

a partir do valor da margem bruta, deve-se acrescentar verbas comerciais e receitas obtidas, por exemplo, com devolução de mercadorias

Margem operacional*

do valor da margem bruta, deve-se deduzir as quebras

Despesas com pessoal

inclui todas as despesas com pessoal, como salários, encargos, horas extras, demissões, benefícios, treinamento, etc.

Despesas com infraestrutura

gastos com manutenção, serviços de terceiros, etc.

Despesas operacionais

soma dos gastos associados à operação

Margem de contribuição

esse indicador não pode ser confundido com a margem de contribuição de produtos. Deve ser calculado por loja e indica o quanto cada filial contribui para o resultado total da empresa

Despesas corporativas

inclui todos os custos da central administrativa (escritório central/matriz), como das áreas comercial, de RH, de marketing, prevenção de perdas, entre outras

Ebitda

lucro antes do pagamento de tributos e de encargos financeiros, como juros de empréstimos, amortizações, etc.

Lucro líquido

deduz-se o pagamento de tributos e as despesas financeiras

* A inclusão da margem comercial e operacional no DRE é uma recomendação da R-Dias a seus clientes

Confusão entre DRE e fluxo de caixa

Segundo Ribeiro, é muito comum os empresários e gestores confundirem as finalidades do DRE e do fluxo de caixa. "Eles são instrumentos de gestão complementares. Enquanto o DRE aponta a eficiência da empresa no período, o caixa indica se há disponibilidade de capital", diz. O especialista explica que, muitas vezes, o varejista olha apenas a conta bancária para saber se teve lucro ou prejuízo. Mas esse é um grande erro. O saldo bancário pode estar positivo, mas em função da entrada de alguma aplicação financeira, da venda de algum ativo, ou da redução das compras, o que diminuiu o contas a pagar. "À medida que o estoque, já pago, vai girando, passa a entrar dinheiro na conta", esclarece. Ribeiro enfatiza que o DRE permite às empresas enxergar parte da condição financeira da empresa. Mas, para se aprofundar nisso, é preciso realizar uma análise complementar.

Lucro e endividamento

Ao olhar o lucro líquido, é preciso ficar atento. O fato de um supermercado estar negativo nessa linha não significa que seja incapaz de gerar recursos com a compra e venda de mercadorias. Alexandre Ribeiro explica que isso pode estar ocorrendo devido à necessidade de pagar juros de empréstimos. Por essa razão, é importante observar o ebitda. Ao contrário do lucro líquido, ele desconsidera gastos financeiros, como pagamento de juros e amortizações, além de impostos. Por isso, é tido como indicador de capacidade de gerar caixa. Uma empresa com lucro líquido negativo, mas ebitda positivo pode ser considerada boa e capaz de produzir recursos. Ou seja, se for injetado capital para reduzir os custos do endividamento, ela será capaz de se sustentar. Já o ebitda negativo indica justamente o contrário. "Uma empresa que contraiu empréstimo para capital de giro dificilmente consegue ter ebitda suficiente", diz Ribeiro. O ideal é perseguir, nesse indicador, um percentual de 6% a 8% sobre as vendas. O especialista da R-Dias lembra, contudo, que um endividamento pode ser considerado positivo se tiver sido contraído para investir no crescimento da empresa, como os projetos de expansão.

Análise horizontal e vertical

Além de acompanhar o lucro líquido e o ebitda, é preciso "entrar" em todos os indicadores do DRE para saber o que está influenciando o resultado final. Em cada um, o supermercadista deve realizar dois tipos de análises: horizontal e vertical. A primeira aponta a evolução do número. Ou seja, a variação percentual do indicador em determinado período de tempo: mês atual x mês anterior; mês atual x mesmo mês do ano anterior; ano atual x ano anterior, etc. Imagine que, ao olhar as despesas com pessoal, o varejista identifique um aumento em relação ao mês anterior. É preciso abrir o dado e entender de onde vem a alta. Suponha que essa alta venha do aumento do número de horas extras. Nesse caso, é preciso entender as razões e tomar medidas para diminuir o gasto. Já a análise vertical aponta a participação de determinado indicador no total de vendas. Se o gasto com pessoal responde por 10% do faturamento e, repentinamente, esse percentual aumenta, isso pode indicar perigo à frente. Talvez a despesa esteja saindo do controle e seja preciso agir para evitar problemas. Já se o percentual apresentar queda, isso pode significar ganho de eficiência.

Responsabilidade pela margem 

Para se aprofundar na análise de lucratividade, a R-Dias recomenda trabalhar com dois novos indicadores, que não entram no DRE tradicional: margem comercial e margem operacional. "Essa é uma metodologia que utilizamos e aplicamos em nossos clientes, com bons resultados", diz Alexandre Ribeiro. "O varejista consegue responsabilizar cada setor por distorções e cobrar resultados", acrescenta. A margem operacional é simples: consiste em deduzir da margem comercial o valor das quebras. Já a margem comercial corresponde a acrescentar ao valor de margem bruta as verbas comerciais e as receitas obtidas com a recuperação de troca de mercadorias, entre outras. Assim, é possível identificar se a margem comercial é puxada por boas negociações ou por verbas de fornecedores. Se houver excesso de verbas, o varejista deve ficar atento, pois isso tira o foco do negócio. As verbas demandam tempo para gerenciar. É preciso negociá-las, administrar contratos, pagamentos, cobranças. Segundo Ribeiro, o ideal é que as verbas fiquem em 2%, em média, para a empresa toda. O que significa que elas podem corresponder a 5% em algumas negociações e a 1% em outras. Ribeiro também explica que reduzir a participação das verbas não significa eliminar as vantagens desse tipo de negociação. Basta jogar a diferença no valor unitário do produto. Se a empresa varejista tem 4% de verba em um pedido e quer trabalhar com 2%, a diferença (2%) deve ser dada pelo fornecedor como desconto sobre a mercadoria ou o pedido. Vale lembrar que existem dois tipos de verbas, que são contabilizadas de maneiras diferentes. A primeira é quando o supermercadista identifica que algum concorrente está vendendo mais barato um determinado item e pede para a indústria baixar o preço. Nesse caso, como se refere a um item, o valor pode ser "jogado" como custo de mercadoria (e deduzido das vendas para gerar a margem bruta). Já quando a verba incide sobre um pedido inteiro, pode ser lançada em forma de receita na linha de verbas da margem comercial.

Despesas corporativas

Segundo Alexandre Ribeiro, as despesas corporativas são importantes para a análise do DRE, mas, muitas vezes, acabam ficando em segundo plano. Esse indicador inclui todos os custos da central administrativa (escritório central/matriz) – as áreas comercial, de RH, de marketing, entre outras. E importante: inclui também os gastos com o setor de prevenção de perdas. Isso permite acompanhar o retorno gerado pela área. "Vejo muitas empresas que têm despesas enormes com prevenção, mas continuam com altos índices de perdas", afirma. Quando isso acontece, é preciso avaliar se, por exemplo, a estrutura poderia ficar mais enxuta ou se a metodologia de trabalho está sendo eficiente.

Benchmarking com outros supermercados

O sócio da R-Dias afirma ainda que é preciso ter referências para saber se os resultados alcançados em cada indicador são bons ou não. Uma maneira é trocar informações com outros supermercadistas. "Mas, nesse caso, é preciso entender como o indicador é calculado para saber se é compatível com o da empresa. Há companhias, por exemplo, que, ao calcular despesas com pessoal, incluem provisão para pagamento de 13º salário. Outras, não. O especialista acredita que o ideal é buscar referências que tenham acesso a dados de supermercados de diversos perfis, pois assim é possível identificar qual o mais adequado para cada caso. E ressalta: "o importante é que, mesmo tendo uma boa performance, a empresa sempre ouse e busque melhoria contínua".

Por Alessandra Morita

Fonte: SM

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