terça-feira, 8 de janeiro de 2013

08/01 Empresas admitem falha em sua governança corporativa


Mais de 80% de 54 grandes companhias brasileiras dizem estar longe do ideal; 59% não têm comitê de riscos, segundo pesquisa

As empresas brasileiras já são capazes de identificar os riscos que correm, mas ainda têm dificuldade para monitorá-los. Essa é a conclusão de uma pesquisa da Deloitte — divulgada ao Brasil Econômico com exclusividade — com 54 companhias, sendo que mais da metade com faturamento acima de R$ 1 bilhão.

De acordo com a pesquisa, 72% dos executivos consultados apontaram o item “identificação de fatores de risco de fraude” como ótimo ou bom, mas sobre “definição clara dos indicadores de riscos” 61% assinalaram o tema como “irregular”, “insuficiente” ou que “nem conhecem”.

Quando o assunto é governança corporativa, 83% das empresas ouvidas avaliam que ainda não estão em um estágio ideal e 59% não possuem um comitê direcionado para o gerenciamento de riscos. “Falta capacitação profissional para saber exatamente o que gerir, controlar e monitorar”, diz Alex Borges, sócio da consultoria da Deloitte e especialista em gestão de risco. Segundo o executivo, as empresas de capital aberto lideram esse movimento de profissionalização e criação de comitês. “Mas as companhias familiares estão indo pelo mesmo caminho. Isso porque muitas delas tiveram perdas inesperadas e estão agora atentas ao atendimento a regulamentações internacionais e nacionais.”

Falta maturidade

Borges explica que as avaliações ainda são muito baseadas em julgamentos. “Esta é a diferença entre a maturidade das companhias brasileiras e as internacionais”, diz. “Demora de três a seis meses para conseguir montar um processo capaz de fazer a identificação dos riscos e, para ter avaliação e monitoramento, leva dois ou três anos.”

Segundo o levantamento, os maiores objetivos com a implantação e fortalecimento do gerenciamento de riscos são: mensurar os riscos da empresa; gerar e preservar valor para os acionistas, estar integrado às estratégias da organização e aos procedimentos de governança corporativa. Ainda de acordo com a pesquisa, 72% dos executivos disseram que aumentou o interesse pelo desenvolvimento de atividades de gestão de riscos em relação a 2011. O principal motivo é a intenção em aprimorar e integrar diversos aspectos de gestão da empresa. Mas apenas 26% dos respondentes informaram que a área de gestão de riscos está muito integrada às demais áreas da empresa. Isso mostra que os funcionários da área ou da função precisam demonstrar os benefícios e o valor desse gerenciamento, agregado de forma a auxiliar e integrar as funções de gestão de riscos existentes nas empresas.

O levantamento aponta ainda que o principal patrocinador das iniciativas de gestão de riscos nas empresas é o presidente (com 23%), seguido do diretor de auditoria interna (19%). Para se ter ideia da importância do assunto no exterior, mais de 75% dos executivos entrevistados nos Estados Unidos responderam que a gestão de riscos mudou em suas empresas devido à volatilidade do mercado nos últimos três anos. 


Profissionais estão empenhados em melhorar
Procura para ingressar na comissão de risco do IBGC cresceu entre 30% e 40%

Por mais que a maioria das empresas avalie que ainda não está em um estágio ideal de governança corporativa, a preocupação quanto ao assunto é crescente. A avaliação é de Mercedes Stinco, coordenadora da comissão de riscos corporativos do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). “A procura de executivos interessados em ingressar no comitê de risco do IBGC cresceu entre 30% e 40% nos últimos dois anos. E esse movimento é observado não só por executivos que atuam em companhias de capital aberto, mas também por profissionais que atuam em empresas familiares, de todos os portes”, diz.

Segundo ela, o simples fato de as empresas reconhecerem que precisam melhorar ajuda no passo seguinte, que é adotar as mudanças com o tempo. A Kroton Educacional, por exemplo, viu seu processo de governança corporativa melhorar com o passar dos anos. Segundo Carlos Lazar, diretor de relações com investidores (RI) da companhia, apesar de a empresa sempre adotar níveis diferenciados, o processo foi acelerado com o ingresso do fundo de private equity Advent em seu capital, em 2009. “Na ocasião, o fundo internacional trouxe práticas que não eram adotadas, tais como a implantação de quatro comitês: acadêmico, auditoria, financeiro e de recursos humanos”, afirma.

Além disso, os investidores passam a exigir padrões mais rígidos de governança corporativa das empresas com o aprimoramento do mercado de capitais. “Quando a Kroton abriu capital, em 2007, se listou no Nível 2 de governança corporativa, porém deu privilégio de Novo Mercado aos investidores. A migração ao nível mais alto de governança, concluído em dezembro do ano passado, não traz mudanças grandes na prática aos investidores. Mas entendemos que o movimento era importante por fazer parte de um processo contínuo de melhoria”, afirma o executivo. ¦ Vanessa Correia




por Natália Flach


Fonte: Brasil Econômico
Via Fenacon

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