quarta-feira, 27 de maio de 2015

27/05 Visão doutrinária da dinâmica das empresas

A visão dinâmica sempre foi a mais relevante no estudo das empresas. Através de uma visita à história do pensamento contabilístico, perceba as razões que sustentam esta opinião.

Foi no decorrer do século XX que a visão da contabilidade transformou-se numa observação dinâmica, fruto do melhoramento das análises das situações estáticas reveladas nos balanços das empresas. 

A verdade é que a estática patrimonial define-se como um campo que reverencia as qualidades e quantidades patrimoniais, espelhadas nos balanços, numa coligação específica. 

A revelação patrimonial que era traduzida nos levantamentos patrimoniais, que acompanhava a contabilidade há séculos, era nada mais que a visão mecânica das contas, e da riqueza administrada em certo momento. 

A mecânica contabilística refletia nada mais do que a movimentação da empresa, isto é, o suceder dos fenómenos patrimoniais, no passado da organização. 

Então, sempre foi mais relevante o estudo dos fenómenos patrimoniais, isto é, os acontecimentos na forma de investimentos, financiamentos, custos, receitas e resultados. 

Ou seja, o importante seria observar a empresa nas suas ocorrências de compras, vendas, custos, despesas, liquidez, rentabilidade, fundos de reintegração, recebimentos e pagamentos. 

É isso que interessava realmente aos estudos superiores da contabilidade ou da ciência do capital das empresas e património das entidades. 

A escola alemã 

Encetou-se esta visão, primeiramente de maneira doutrinária, na escola alemã dirigida pelo génio Eugen Schmalenbach na sua tese reditualista. 

O mestre entendia que a rentabilidade, no modo tal como o balanço retratava a dinâmica, deveria ser observada, na realidade, como se fosse uma síntese do suceder dos fenómenos da empresa. 

Ele criara a chamada teoria do balanço dinâmico, porque o demonstrativo em sua natureza é estático, fazendo uma nova vertente de análise contabilística. 

Dessa forma, isso criou brechas para as teorias da empresa orgânica, e do balanço mecânico, produzido pelo levantamento informativo e mecânico que fazia o demonstrativo fazer uma visão fria, mas que deveria ser analisado com outros vieses; e estas teorizações também eram dirigidas por outros contabilistas cientistas alemães que foram Nicklisch e Schmidt (e no Brasil, nos meados do século XX, por Rogério Pfaltzgraff na sua tese do «lucro vegetativo»). 

Eles deram desenvolvimento à escola do resultado que admitia este como fenómeno principal da contabilidade.

Ao mesmo tempo em que os alemães produziam as suas teorias de máximo lucro, os americanos passaram a estudar as finanças, e a dinâmica, pela chamada análise de balanços, tecnologia primordial da contabilidade. Numa visão mais pragmática, voltada aos giros, análise de rentabilidade, estrutura financeira e retorno, que consistiam os cálculos americanos.

Os balanços eram comparados, de modo a estabelecer até uma ideia que poderia existir o comportamento ideal, este voltado para o número ideal, ou quocientes-padrões, aplicados a custos e a finanças gerais, e os tais eram produzidos pelas experiências extraídas de vários balanços em anos sucessivos.

Em resumo, os americanos, na sua visão prática, através da consultoria patrimonial e de análise, conseguiam prover um estudo dos movimentos empresariais, ou da empresa como um corpo que se move e se movimenta.

Isto é, a análise e consultoria patrimonial que os americanos tanto praticavam, refletiam a observação da dinâmica das empresas e entidades nos seus movimentos e operações diversas.

Por último, os italianos fizeram do estudo da dinâmica um campo da contabilidade doutrinal.

Na interpretação dos balanços, Ceccherelli admitia que os estudos dos movimentos de empresa deveriam ser primordiais na contabilidade.

Admitia o mestre que os quocientes que mensuravam os comportamentos ideais não poderiam ser interpretados de maneira absoluta, porque as estruturas eram antes de tudo não-estáticas, mas dinâmicas, isto é, elas eram variadíssimas, porque assumiam diversas posições condizentes aos fenómenos do capital, e ainda, diversificadas devido aos tipos de atividade, condição económica, demanda efetiva, e mercado.

Em todo, ainda, foi o gigante Masi que colocou a análise da dinâmica como campo doutrinal.

Na sua doutrina chamada patrimonialismo, destacou todo um conjunto de análises da contabilidade científica. 

Ou seja, estabeleceu ele, basicamente, três campos de orientação contabilística que denominou de «especialidades»: a relevação (levantamento e escrituração da empresa), a estática (a análise da coordenação qualitativa e quantitativa do património), e a dinâmica (análise dos fenómenos de investimentos, financiamentos, custos, receitas e resultado).

O mestre Masi, da Universidade de Bolonha, que dera a lume o estudo da dinâmica como elemento da doutrina contabilística, esta, ciência da gestão das empresas, e da sua eficácia, na prudente e ocular orientação administrativa.

Em suma, com todos os movimentos provindos da Alemanha, Estados Unidos e Itália (as nações que desenvolveram as principais teorias revolucionárias do mundo empresarial e contabilístico) que a visão da empresa passou a fomentar-se de forma dinâmica, e nesta pretensão, de modo mais proeminente que a visão estática.

Apesar de todas as justificações doutrinais, e mais, com a visão prática, o que interessa realmente, não é somente a observação do património em dado momento, mas sim a sua análise dinâmica.

Então, não adianta saber quanto é que existe de compras no final do ano, mas como foi a movimentação desses stocks, em re¬lação à necessidade de vendas e dos giros.

Automaticamente, se o balanço revela que existe um crédito a receber, mais interessante é observar se o mesmo está com a velocidade para atender as necessidades de pagamento.

Importante é ver se a rentabilidade permanece, e ainda, se consegue aumentar de forma gradual durante os períodos, na regulação e tempo dos custos, e das receitas.

Portanto, a visão dinâmica sempre foi a mais relevante no estudo das empresas e nas consultorias de gestão.

Tal conceção firmou-se mais na doutrina, primeiramente como reconhecimento, todavia, comprovada pela prática de gestão, e automaticamente de consultoria sobre os fenómenos patrimoniais, que se revelam de forma estática. Contudo, são em natureza ou essência, dinâmicos na sua demonstração e análise, e no seu tempo de ocorrência.

Por Rodrigo António Chaves da Silva - Contador - Docente da Univiçosa - Membro da escola do neopatrimonialismo

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