quarta-feira, 21 de junho de 2017

Lógica do pensamento integrado é desafio para organização

Entre os avanços para a transparência das informações empresarias, a abordagem do Relato Integrado (<IR>) surgiu por meio de uma coalizão global de reguladores, investidores, empresas, definidores de padrões, profissionais do setor contábil e ONGs com objetivo de propor um modelo de relatório conciso e capaz de avaliar a capacidade de geração de valor das organizações. Desde 2010, o IIRC (International Integrated Reporting Council) vem disseminando mundialmente a importância estratégica de sua adoção para melhorar a qualidade das informações relevantes das companhias a fim de aprimorar a comunicação com os stakeholders. Para falar dessa tendência internacional, o CEO do IIRC, Richard Howitt, esteve em março no Brasil participando de uma série de eventos com agenda organizada pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), representante da Comissão Brasileira de Acompanhamento do Relato Integrado.

O CRCSP (Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo) sediou Seminário Internacional no dia 15 de março com apoio da ANEFAC, que tem uma diretoria sobre o assunto coordenada pelo diretor executivo Fernando Fonseca. “O Relato Integrado faz parte da estratégia de desenvolvimento dos negócios, entregando para a sociedade informações com reconhecimento dos valores da empresa. A necessidade de transparência é global. O CRCSP apoia essa iniciativa e reforça que os profissionais de Contabilidade busquem essa competência para implementar o Relato Integrado nas organizações“, disse o presidente do CRCSP, Gildo Freire de Araújo, na abertura do evento.

A coordenadora geral da Comissão Brasileira de Acompanhamento do Relato Integrado, Vânia Borgerth, ressaltou que o “Relato Integrado é uma importante ferramenta para o acompanhamento das decisões de investimentos. É um conceito revolucionário, que conta a verdadeira história de uma empresa, com começo, meio e fim”, observou.

Considerando que nenhuma companhia é hoje impacto zero, o mercado entende como fundamental que as organizações passem a elaborar os Relatórios Integrados para começar a mitigar impactos negativos. Ele vem se definindo como uma metodologia com estrutura mais fácil e padronizada, que atende a demanda dos stakeholders. 

Falaram sobre suas experiências com Relato Integrado a chefe do gabinete da presidência da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Camila Pantera; a head of South America, Networks & Outreach at PRI (Principles for Responsible Investment), Tatiana Assali; a diretora de Imprensa, Sustentabilidade e Comunicação da BM&FBovespa, Sonia Favaretto; o head de Políticas Contábeis do Itaú, Rodrigo Morais; e o professor da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras), Eduardo Flores.

“Como provedores de informações, produtos e serviços para as companhias, a nossa premissa é a transparência, conceito que está na raiz do nosso negócio”, disse Sônia Favaretto. Desde 2000, a Bolsa vem difundindo no mercado a adoção de políticas além de econômicas e financeiras, como a de governança corporativa. “Iniciamos esse movimento pioneiro. No Índice Sustentabilidade Ambiental, o Brasil é uma referência mundial há mais de uma década. Dentro desse contexto, sugerimos que as empresas forneçam um relatório com informações ambientais, sociais e de governança corporativa, tomando por base padrões internacionais aceitos, como a estrutura do Relato Integrado do IIRC”, destacou. A Bolsa, segundo ela, procura estimular as corporações nesse caminho por meio de seus instrumentos. “Lançamos este ano uma iniciativa que pede às empresas listadas que informem anualmente se elaboram seus relatórios de sustentabilidade ou integrado, de acordo com os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável)”, exemplificou

Os ODS fazem parte da agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, documento lançado pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 2015. “O mercado de capitais sente a necessidade de ser sustentável, a fim de trazer melhores investimentos e resultados para todos os envolvidos. E a Bolsa vem auxiliando- -as nesse caminho. Todos ganham nesse cenário, tendo o Relato Integrado como parte das decisões”, assinalou Sônia.

Para Rodrigo Morais, do Itaú, é fundamental que as companhias adotem o Relato Integrado com objetivo de gerar valor ao longo do tempo. Ele destacou que “o grande desafio da implementa- ção é difundir o pensamento integrado dentro da companhia. Fizemos o primeiro, com enorme recepção interna, e já estamos caminhando para a publicação da 4ª edição do nosso Relato Integrado. Essa abordagem tem nos permitido uma comunicação mais inteligente”, avalia.

Segundo Eduardo Flores, da Fipecafi, as corporações ainda têm vários veículos de informação divulgados de maneira segregada. “Isso cria um problema de desconexão das análises dessas peças para reportar de forma eficiente o desempenho empresarial, o que gera, automaticamente, uma má interpretação dos resultados ou até total desconsideração por parte dos investidores. Temos uma pesquisa dentro da academia apontando que notícias de mídia especializada, como The New York Times e Financial Times, são mais consideradas para fins de determinação do preço das ações do que as publicações tradicionais dos financial statements”, aponta. 

A professora Simone Letícia Sanches, da Universidade Estadual de Maringá, destacou, em dissertação de mestrado sob sua orientação, que entre os fatores que contribuíram para a melhor produção do estão a perspectiva holística sobre o fluxo de informação; o compartilhamento do significado entre os envolvidos de diferentes setores; reuniões periódicas; filtro do que é informação essencial a ser reportada; tornar o mais conciso, com redução de ambiguidade; experiência com diretrizes GRI; o entendimento compartilhado internamente de que divulgar informações é fonte de vantagem competitiva; e o envolvimento da diretoria executiva de Finanças com o tema.

Contexto global 

Sob um contexto global, o CEO do IIRC, Richard Howitt, destacou que o propósito do Relato Integrado é, justamente, pensar de maneira holística que as informações não estão separadas. “Observamos um grande crescimento desse movimento no mundo, defendendo a integração nos relatórios financeiros. Cerca de 1.500 empresas internacionais já adotam o Relato Integrado e o modelo vem sendo disseminado como princípio a ser adotado na economia mundial. Desenvolvemos treinamentos para empresas e temos apoio de redes acadêmicas como Stanford e Harvard”, mencionou. 

Segundo Howitt, o Reino Unido é uma região estratégica, com cerca de 11 mil empresas já em fase de implementação do . Já os BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ganham destaque por serem economias emergentes, o que torna o Relato Integrado fundamental para o acesso a capitais internacionais. “No Brasil, cerca de 120 empresas já estão adotando o movimento, o que é muito significativo. Destas, 12 implementaram completamente o framework”, destacou. Positivamente, avaliou que o Brasil, como maior economia da América Latina, é uma referência para os demais países na região. “Os legisladores, assim como os maiores líderes, veem o Relato Integrado como primordial para o futuro no mercado de capitais internacional. E o movimento no país está crescente e contínuo”, afirmou. Ele sugere pedir maior apoio aos órgãos reguladores, já que o não é obrigatório, enquanto as organizações devem se conscientizar dos benefícios de sua adoção, criando conexões de valor.

“Vale ressaltar que não é interessante copiar modelos da Índia ou da África do Sul, por exemplo. Isso criaria uma confusão no mercado. É mais eficaz que os órgãos reguladores eduquem o mercado sobre a prática do Relato Integrado, a exemplo do Itaú, que elaborou um relatório sem métricas em demasia, com informações de sustentabilidade integradas às financeiras”, disse.

Para Howitt, a economia do Brasil, em recuperação, é um grande desafio. “Mas as companhias devem seguir adiante. O Relato Integrado deve ser também uma ferramenta para tratar dificuldades, pois a metodologia fornecerá informações relevantes e de valor para investidores, sendo base também de reputação da empresa. Se uma companhia quer seguir na liderança, deve aderir ao movimento global. O nosso objetivo é que o Relato Integrado seja norma no mundo, pois empresas que o utilizam têm obtido muito sucesso. O representa uma organização”, assinalou o executivo, alertando: “A nova geração de CEOs vê o Relato Integrado como estratégico para a companhia. Hoje, é uma vantagem competitiva. No futuro breve, será mandatório no currículo profissional”.

Por Andrea Fagundes

Fonte: Anefac.com.br/ 

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