quarta-feira, 6 de junho de 2018

Mindset empreendedor: Empreendedorismo como forma de pensar, ser e fazer

Apesar das diferenças entre a economia mundial e a economia brasileira, existe um tema que permeia o ambiente econômico mundial de forma cada vez mais intensa: o empreendedorismo.

Seja pela evolução digital, com as plataformas e modelos e negócios digitais, com o IoT (Internet of Things, ou internet das coisas) ou indústria 4.0; pelo perfil das gerações Y, Z e milenials, que buscam maior independência e desejam intervir de forma mais significativa na sociedade; ou até pela questão dos dois tipos principais de motivação empreendedora, o empreendedorismo por oportunidade versus o empreendedorismo por necessidade (este infelizmente em ascensão no Brasil no momento), em todas esta situações o diferencial está na capacidade de fazer a coisa acontecer…e acontecer de verdade!

Ouvimos com frequência comentários como “claro que é fácil empreender nos EUA ou na Europa”, lá tudo funciona, lá o governo ajuda, blábláblá…

Os candidatos a empreendedores com esta mentalidade já estão na primeira fila do fracasso. Não que realmente não existam condições mais favoráveis nos países desenvolvidos, mas qual a chance de agir de forma empreendedora com um pensamento voltado a achar culpados, ao invés de soluções?

Em uma reunião que participei com diversos representantes do ecossistema de empreendedorismo e inovação paranaense e o CEO da EBANX, Alphonse Voigt, onde se discutia como o ecossistema poderia auxiliar no desenvolvimento das startups de destaque, surgiu na conversa a ideia de se criar um movimento regional envolvendo deputados para tentar mudar leis que impactam no desenvolvimento das micro e pequenas empresas. Antes que a conversa tomasse corpo, o Alphonse interviu de forma categórica:

– “Desculpem, mas se formos por este caminho, não me envolvam! As coisas são difíceis no Brasil, mas é assim que o país é. Então, “play the rules!” (siga as regras!). Posso gastar minha energia durante anos tentando mudar algo em Brasília, e depois jogar a culpa neles, ou dedicar minha energia para a minha empresa crescer, mesmo com as limitações.”

A EBANX passou em dois de anos de 50 para mais de 200 funcionários, expandiu para outros países na América Latina e continua em forte ritmo de crescimento, MESMO dentro das duas regras burocráticas e trabalhistas do país.

Ok, mas qual o caminho a seguir então em um país tão complicado? – vocês devem estar se perguntando.

Bil Aulet, do Martin Trust Center of Entrepreneurship (do MIT) menciona que ainda existe muito foco na sensibilização sobre o pensamento empreendedor, mas ainda pouca dedicação ao desenvolvimento de skills (habilidades), ou do “saber fazer” e “fazer acontecer”. Vemos isto claramente no Brasil quando comparamos dois rankings mundiais voltados ao empreendedorismo: o do GEM (Global Entrepreneur Monitoring) que identifica as iniciativas empreendedoras no países pesquisados, e do GEDI (Global Entrepreneurship Development Institute), que analisa as ações e resultados das ações empreendedoras, com base em 14 pilares. No primeiro o Brasil geralmente tem se posicionado entre os primeiros; no segundo se encontra na 81a posição, entre cerca de 120 países avaliados.

É a diferença entre a “iniciativa” e a “acabativa”!

O perfil mais “caliente” de um país latino como o Brasil tem levado a um movimento empreendedor de “palco”, menos assertivo e pragmático.

Mas então estamos perdidos?

Claro que não! Entendo que parte deste movimento é natural pelo próprio aprendizado que o país ainda precisa passar em termos de amadurecimento da mentalidade empreendedora. Temos exemplos fantásticos aqui no Brasil, porém a maior parte deles vem de ações  individuais de empreendedores (ou de times de empreendedores) que fazem acontecer.

Um dos primeiros passos vem das instituições de ensino que precisam colocar uma lupa sobre a nova realidade do mercado e entender melhor a nova geração e os novos comportamentos da sociedade (quem diria um dia que alguém alugaria sua casa e sua cama para um estranho dormir nela, como fez o AirBNB!). Ah…e também não achar que empreendedorismo ainda é moda.

Ao entender melhor esta realidade, as instituições precisam auxiliar no desenvolvimento destes skills e do mindset empreendedor (que podem ser usados em qualquer situação, seja numa empresa pública, nos negócios tradicionais ou no terceiro setor). Nossos jovens precisam desenvolver seu mindset empreendedor.

Para citar os principais conceitos que tem conseguido demonstrar, instrumentar na prática acelerar o processo de “acabativa”, temos:

* o Lean Startup (Startup Enxuta, do Eric Ries), que apresenta aspectos relacionados ao processo do aprendizado validado e no ciclo “construir > medir > aprender”, mas de forma rápida e consistente;
* o Customer Development (Desenvolvimento do Cliente, do Steve Blank), que apresenta como focar os esforços e recursos disponíveis da melhor forma e melhor momento, em cada fase do seu negócio;
* e do próprio Bill Aulet, que não acredita no momento Eureka, mas sim que o empreendedorismo pode ser sim ensinado, basta para isto disciplina (do seu livro Disciplined Entrepreneurship).

Mas estes conceitos são a solução dos nosso problemas?

Obviamente não, pois antes e qualquer resultado vem a atitude. Porém eles auxiliam a fazer com que os esforços sejam menores e os resultados sejam mais rapidamente validados.

A mudança de comportamento não se faz do dia para a noite. É necessário muita determinação para não desistir. Porém quanto antes iniciarmos este processo mais rapidamente colheremos os frutos deste esforço.

Convido vocês a ter mais “acabativa”. Vamos lá? Então “Less talk, more action!”

Glauco V. De França Fürstenberger
Graduado em Engenharia Industrial Elétrica pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (2000), especialização em Gestão de Negócios pela UFPE (2004) e mestre em Administração Estratégica pela PUCPR. Professor da PUCPR, em cursos de Especialização e MBA (Gestão de Negócios, Empreendedorismo e Inovação, Produção, Logística e Marketing) e em cursos de Graduação (Administração, Marketing e Design). Coordenador da Pós em Empreendedorismo e Inovação: Startup Business Model da Escola de Negócios da PUCPR. Cofounder da Startup CaridadX, voltada ao negócio social e CEO e Founder da Startup My Wagen, para suporte a serviços automotivos. Tem atuado como mentor em diversos eventos de empreendedorismo e inovação, como Startup Weekend, hackatons, programa de aceleração Inovativa Brasil, entre outros. Criador da página STARTUP SEAL no Facebook, voltada ao empreendedorismo digital e ao desenvolvimento do mindset empreendedor com base no conceito Lean Startup

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