terça-feira, 1 de setembro de 2015

01/09 Ouro lidera ranking de rentabilidade em agosto

A incerteza sobre a desaceleração da China fez o metal se valorizar ante outros investimentos. No ano, porém, quem tem aplicações em dólar obteve a maior rentabilidade

Procurado nos momentos de maior incerteza e de volatilidade no mercado, o ouro foi o destaque em agosto, segundo o ranking do administrador de investimentos Fabio Colombo. Afinal, com o tombo das bolsas internacionais na última semana do mês - impulsionado pelo temor de que a desaceleração da economia chinesa seja maior do que se espera - o metal fechou agosto com valorização de 10,04%. No ano, a alta foi de 29,68%.

É importante lembrar que o ouro é cotado em dólar e parte de sua valorização está atrelada à elevação da moeda norte-americana, de 5,96% em agosto.

No ano, o dólar subiu 36,33%, o que beneficiou quem tem aplicações atreladas à moeda, como os fundos cambiais ou aqueles com ações estrangeiras na composição. O euro encerrou agosto com alta de 8,59%. No acumulado do ano, a moeda europeia valorizou-se 26,31%. 

Mauro Calil, especialista em investimentos do Banco Ourinvest, diz que o clima de incerteza no Brasil e, pior, na China - de dimensão maior - podem fazer com que o ouro e o dólar continuem subindo em setembro. 

"Se as coisas não se acalmarem até o fim do ano ou em quatro meses, as pessoas que já entraram em aplicações atreladas ao ouro ou ao dólar poderão ter uma alegria maior do que a média. Pode ocorrer uma desvalorização, de uma semana ou de um mês, mas não acredito que haverá perdas para esses aplicadores no ano", afirma. 

Segundo ele, o investidor que quiser ganhar mais do que a média oferecida na renda fixa pode colocar um tempero de renda variável na carteira - mas o quanto depende muito do comportamento de cada um. 

"O fato é que precisa ter prazo, ou seja, comprar e estacionar. Na hora de avaliar a aplicação, é bom lembrar que o ouro no Brasil tem baixa liquidez (ou seja, possibilidade de resgate com perda expressiva de valor). Há contratos de R$ 3 mil a R$ 30 mil na bolsa. E o preço do metal flutua muito", diz. 

Em relação ao dólar, cujo meio de investimento se dá por meio fundos cambiais ou com um percentual de ações internacionais na composição, ele recomenda verificar a liquidez e as taxas de administração e de performance (quando o gestor cobra um percentual a ser aplicado sobre o valor que ele conseguir superar de um determinado indicador), além da leitura atenta do prospecto. 

"Verifique se o fundo permite alavancagem e se o cotista, no caso o investidor, precisará fazer novos aportes em uma situação de prejuízo, caso a estratégia do gestor em relação ao dólar falhe", alerta.  

É importante lembrar que, a partir de outubro, para ter acesso a produtos mais sofisticados, como é o caso das aplicações atreladas ao dólar, o investidor precisará ter mais de R$ 1 milhão em investimentos para ser considerado qualificado. No entanto, não terá limite mínimo de entrada para acessar essas aplicações. 

Outro fator que deve influenciar fortemente essas aplicações e a bolsa de valores é a reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). No próximo dia 17, a autoridade definirá se aumenta a taxa de juros nos Estados Unidos, o que tende a valorizar mais o dólar. 

Colombo diz que a desaceleração da China pode ser levada em consideração pela autoridade monetária americana na decisão em relação aos juros. Mas Gustavo Cruz, economista da XP Investimentos, diz que no último fim de semana o Fed deu sinais de que o bom resultado do PIB (Produto Interno Bruto, soma de riquezas do país) norte-americano, que atingiu alta de 3,7% no segundo trimestre, pesará mais na decisão do que a questão da China. 

Ainda assim, o nervosimo em relação ao que acontecerá com a economia chinesa nos mercados mundiais afetou negativamente a bolsa brasileira, que ficou na lanterna. Em agosto, foi a única aplicação a dar prejuízo ao investidor, com queda de 8,33%. No ano, o Ibovespa (índice das ações mais negociadas e de maior valor de mercado) proporcionou perdas de 6,76%. 

"A China é o principal parceiro comercial do Brasil e a tensão afetou as ações de siderúrgicas. A ação preferencial (PN, com direito a voto) da mineradora Vale caiu 3,75% no mês", diz Cruz. 

DEFINIÇÃO DA SELIC NA QUARTA-FEIRA

Outro indicador que estará no radar neste início de setembro é a definição da taxa básica de juros (Selic) na quarta-feira (02/09). O mercado espera que os juros permaneçam no mesmo patamar, mas ainda assim os juros futuros estão subindo por causa de outras incertezas na economia brasileira, especialmente em relação às contas públicas. 

Nesta segunda-feira (31/08) o governo enviou o orçamento do ano que vem com previsão de déficit (resultado negativo das contas públicas) de 0,5% do PIB. 

"O mercado interpretou mal essa atitude e isso cria mais dúvidas sobre se as agências de rating rebaixarão a nota de crédito brasileira. Fora isso, há os desdobramentos da Operação Lava Jato e a ameaça de impeachment", diz Colombo. 

O administrador destaca que as aplicações em renda fixa não devem oferecer ganhos importantes enquanto a inflação estiver alta. Em 12 meses até julho o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumula variação de 9,56%. 

Em agosto, a aplicação de renda fixa que ofereceu maior retorno foi o fundo DI, com rendimento bruto na faixa de 1% a 1,15% dependendo da taxa de administração. No ano, a rentabilidade média foi de 8,49%. 

O segundo melhor desempenho nesta categoria ficou com o CDB (Certificado de Depósito Bancário), com remuneração indicativa de 0,95% a 1,10% no mês, dependendo do valor investido e do risco de crédito do banco emissor. No ano, a aplicação rendeu em média 8,13%.

Calil, do Ourinvest, diz que, apesar da alta do ouro e do dólar, a renda fixa pode oferecer ganhos, dependendo do produto. "Em Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letras de Câmbio (LC) e CDBs é possível conseguir um rendimento líquido (descontado os impostos) de 15%, mas é preciso ter prazo para aplicar", afirma. 

Já os fundos de renda fixa puros não tiveram um desempenho tão bom. Encerraram o mês com rendimento médio de 0,75% a 0,90% por causa da alta dos juros futuros. No ano, a rentabilidade média ficou em 8,60%, dependendo da taxa de administração.

Os títulos públicos atrelados ao IPCA também devem oferecer retorno bruto menor no mês, de 0,70% a 0,85%, dependendo do prazo do papel. No ano, porém, acumulam um rendimento indicativo de 11,44%. Essa projeção considera um IPCA de 0,23% em agosto e um cupom de juros na faixa de 7% a 7,2% ao ano. 

A aplicação que menos rendeu em agosto foi, mais uma vez, a caderneta de poupança, com rendimento líquido de 0,69%. No ano, perde de longe da inflação, com ganhos de apenas 5,17%.

Segundo Colombo, a caderneta está menos competitiva em relação aos fundos DI ou de renda fixa. "Sob a atual taxa Selic, só ficou interessante para investidores que não têm acesso a fundos DI ou renda fixa, com taxas de administração menores que 3% ao ano", diz o administrador.  

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